quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O tempo não pára


Cazuza / Arnaldo Brandão

Disparo contra o sol. Sou forte, sou por acaso.
Minha metralhadora cheia de mágoas. 
Eu sou um cara.
Cansado de correr na direção contrária, 
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada.
Eu sou mais um cara.

Mas se você achar que eu tô derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados.
Porque o tempo... o tempo não pára.
Dias sim, dias não; eu vou sobrevivendo sem um arranhão.
Da caridade de quem me detesta!

(Refrão)
A tua piscina tá cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos.
O tempo não pára.
Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades.
O tempo não pára. Não pára não, não pára!

Eu não tenho data pra comemorar, às vezes os meus dias são de par em par.
Procurando uma agulha num palheiro.
Nas noites de frio é melhor nem nascer.
Nas de calor se escolhe: é matar ou morrer. E assim nos tornamos brasileiros.
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro, transformam o país inteiro num puteiro.
Pois assim se ganha mais dinheiro!

(Repete refrão)

Dias sim, dias não; eu vou sobrevivendo sem um arranhão.
Da caridade de quem me detesta!

(Repete refrão de novo)

O que nós somos? Várias coisas. Somos a revolta que se espalha por aí, somos leve brisa que chora e pára para refletir e sonhar. Somos fortes e fracos. Mas somos, acima de tudo, humanos, pulando e quicando nas vagas do mar, como bêbados equilibristas (mas se bem que essa já é outra música). Sem saída, somos sozinhos, mas nunca nos derrotamos por completo, porque a gente renasce. E o tempo... até pára, mas ele não dá outra chance! Quanto a mim, não tenho tempo a perder, e parece mesmo que o tempo está correndo contra mim. Não recebo grandes recompensas, não há para onde fugir, e a vida vai me destruindo... e eu me remontando, buscando um modo de me alimentar pelas migalhas que me atiram pelo caminho... migalhas estas que não vou implorar para ter, mas que vou sempre procurar recolher.

O mundo está meio torto e eu já vi tudo isso - o que pode ser muito chato, mas ao mesmo "saber" das coisas permite que vejamos o melhor que tenha para ser visto. Meu museu é cheio de novidades!, porque ninguém vê tudo ao mesmo tempo e sempre há coisas que ficam meio ocultas, apesar de velhas e de terem estado sempre lá. E em meio aos altos e baixos eu busco algo que me faça sentir vivo, e o que me faz sentir vivo é achar mais seres viventes para vivermos. Porque não existe nenhuma divindade sem humanidade! E vão me chamar de várias coisas, vão me xingar de tudo quanto é coisa, mas ninguém vai tirar minha humanidade só porque sou errado. O tempo não pára, e não vai parar mesmo que pare.